Treze anos antes, Moro já previa que teria problemas com o Supremo e o foro privilegiado

Em seu breve, mas valioso, artigo sobre a operação Mãos Limpas, Sérgio Moro tenta, ainda em 2004, resumir a situação do judiciário brasileiro. Num primeiro momento, destacando os pontos positivos:

A magistratura e o Ministério Público brasileiros gozam de significativa independência formal frente ao poder político. Os juízes e os procuradores da República ingressam na carreira mediante concurso público, são vitalícios e não podem ser removidos do cargo contra a sua vontade.”

Já no segundo:

O destaque negativo é o acesso aos órgãos superiores, mais dependentes de fatores políticosDestaque também negativo merece a concessão, por lei, de foro especial a determinadas autoridades públicas, como deputados e ministros, a pretexto de protegê-los durante o exercício do cargo.”

Em outros palavras, Moro observa que as instâncias inferiores podem cumprir com sua missão, enquanto as superiores ficam reféns do jogo político, em especial, o foro privilegiado distribuído a tantas autoridades.

É exatamente a dificuldade enfrentada hoje. Exemplo melhor do que o ocorrido no julgamento da cassação da chapa Dilma/Temer não há. Mesmo diante das dúzias de provas, os membros do TSE se entregam a conveniências políticas. Enquanto isso, os aliados do presidente da República só são contidos no momento em que perdem a prerrogativa de foro.

Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer, Aécio Neves, ou mesmo qualquer autoridade hoje investigada não se mostram dignas dos cargos que receberam do eleitor. Mas tão ou mais podre é o sistema que abre caminho a essa turma. Não adianta combater um sem combater o outro.

(O Implicante)